Hell is Us, o novo RPG sombrio da desenvolvedora Rogue Factor, chegou chutando portas com uma demo liberada nas principais lojas de games, a Epic Games e a Steam. Ambientado em um país devastado por uma guerra civil e cercado por entidades misteriosas, o jogo promete uma experiência intensa e enigmática. E, confesso, eu não esperava tanto impacto logo de cara.
Resolvi testar a demo sem grandes expectativas, mas bastaram alguns minutos imerso naquele mundo surreal para perceber: havia algo especial ali. O clima opressor, o combate corpo a corpo cru e a atmosfera carregada me prenderam de um jeito que eu não via há tempos em um jogo indie. Nesta análise, conto como foi encarar esse universo estranho e por que Hell is Us merece sua atenção.
Minha experiência de jogo foi em um computador com processador Xeon E5-2640 V3, 32 GB de RAM e uma placa gráfica RTX 4060. Testei a gameplay tanto pela Steam quanto pela Epic Games.
Ambientação e visual
Logo nos primeiros minutos da demo, Hell is Us deixa claro que não vai te levar para um mundo comum. O cenário — uma nação devastada pela guerra civil e assolada por criaturas sobrenaturais — tem aquele clima de pesadelo lúcido.
A ambientação transmite uma sensação constante de perigo, isolamento e desconforto, tanto em áreas abertas (como bosques, pequenas matas e descampados) quanto em ambientes fechados, que são como ruínas mal iluminadas e desafiadoras.
O visual é extremamente realista, e isso é perceptível nos mínimos detalhes: nas construções, na lama, na água. Os locais exibem uma riqueza impressionante, com vegetação bem definida, destroços de um conflito recente e restos mortais de pessoas e animais, criando uma atmosfera que é, ao mesmo tempo, grotesca e bela.
A direção de arte apostou em cores desbotadas e ruínas abandonadas, misturando o real com o delírio. É como se você tivesse caído em um limbo entre a realidade e a loucura, e isso, acredite, é um grande elogio.
Mesmo com um processador mais antigo e uma placa de vídeo de entrada como a RTX 4060, o jogo entrega gráficos bonitos e envolventes. Durante minha jogatina, não utilizei os recursos extras da RTX 4060 (como DLSS, por exemplo) e não percebi nenhuma queda de quadros.
No entanto, é importante ressaltar que, sim, Hell is Us consome muitos recursos de hardware: a RTX 4060 operou no limite o tempo todo, mas manteve a jogabilidade bem fluida, sem quedas de quadros com as configurações padrão do jogo.




Áudio e Design de Som
A trilha sonora de Hell is Us é minimalista e dissonante, predominando na maior parte do tempo os sons do ambiente. Prepare-se para ouvir seus próprios passos, o canto de pássaros e, em alguns momentos, uma melodia calma que, paradoxalmente, não transmite paz alguma. É estranho dizer isso né?
O design de som complementa a atmosfera do jogo, com cada passo no terreno lamacento, o ranger metálico de portas enferrujadas, o murmúrio distante das criaturas e o silêncio opressor dos momentos de exploração. Juntos, esses elementos trabalham para criar uma atmosfera palpável de perigo e isolamento.
A ausência de música em muitos momentos é intencional, forçando o jogador a depender dos sons do ambiente para antecipar ameaças e se sentir verdadeiramente vulnerável.
Os efeitos sonoros dos inimigos são particularmente eficazes, variando de grunhidos perturbadores a passos pesados que anunciam a proximidade do perigo, contribuindo imensamente para a tensão dos confrontos. Em suma, o áudio de Hell is Us é magistralmente executado, elevando a experiência a um nível de imersão bem profunda.
Jogabilidade
Hell is Us não segura sua mão — e isso é ótimo. A demo já te joga direto em um cenário hostil, com pouco ou nenhum tutorial. Os controles são responsivos, mas exigem atenção: cada golpe precisa ser bem cronometrado, especialmente no combate corpo a corpo, que é o verdadeiro coração do jogo.
O combate
Durante o combate, o erro custa caro, o que torna cada confronto mais tenso e recompensador. A ausência de uma HUD tradicional e de indicadores constantes aumenta ainda mais a imersão, te obrigando a observar o ambiente e confiar nos seus próprios instintos.
No início, por algum motivo, imaginei que usaria armas de fogo para combater os inimigos. No entanto, fui surpreendido ao encontrar armas brancas (como espada e maça), e isso tornou tudo muito divertido, exigindo mais estratégia para iniciar cada embate.
É importante notar que, como a demo apresenta apenas o começo do jogo, não é possível saber se teremos acesso às armas de fogo em momentos mais avançados da jogatina.

A exploração
A exploração também é bastante interessante: o mundo parece pequeno à primeira vista, mas esconde segredos que só aparecem para quem se arrisca a sair do caminho óbvio. Além disso, há momentos em que a narrativa se entrelaça com a jogabilidade, criando uma experiência quase “sensorial”.
O mapa
Em relação ao mapa, é provável que possamos trafegar entre os locais, mas este não é um mundo aberto. Não conseguimos nos deslocar para qualquer ponto da área em que estamos; o jogo nos direciona de forma sutil, com indicações no ambiente. Também não é possível interagir com a maioria dos objetos, exceto aqueles que fazem parte do enredo, que se iluminam quando nos aproximamos. Porém, não vejo isso como um problema.
Tudo isso acontece sem uma indicação clara do que devemos fazer, e isso é excelente! Lembra os antigos jogos de RPG ou survival horror que traziam um desafio em que o jogador precisava prestar atenção no ambiente e nos diálogos para saber o que deveria ser feito e assim não se perder. Clássicos como Resident Evil e Final Fantasy são ótimos exemplos dessa abordagem.


Narrativa
A história de Hell is Us começa com Rémi, um protagonista cercado de dúvidas — sobre o mundo ao seu redor e sobre si mesmo. Logo nos primeiros diálogos, fica claro que o jogo não vai te entregar respostas prontas: tudo é fragmentado, carregado de simbolismo, como se você estivesse reconstruindo a história peça por peça.
A demo mistura eventos políticos sombrios com elementos sobrenaturais, criando uma atmosfera de constante incerteza. Há um contraste forte entre os momentos introspectivos e os momentos de tensão, como se o próprio jogo estivesse te desafiando a interpretar a realidade de formas diferentes.
O mais interessante é como Hell is Us usa o silêncio e a ambientação como parte fundamental da narrativa. Em vez de longas cenas explicativas, o jogo sugere, insinua… e te deixa com aquele gostinho de mistério que faz você querer mais.


Pontos fortes e fracos
Pontos positivos:
- Atmosfera Única e Imersiva: A direção de arte impecável e o design sonoro criam um clima tenso e misterioso que te prende do início ao fim. Hell is Us constrói um pesadelo lúcido que fica na mente do jogador.
- Combate Envolvente e Desafiador: Simples na superfície, mas profundo na execução, o combate recompensa paciência e precisão. Cada golpe precisa ser calculado, tornando os confrontos tensos e gratificantes.
- Narrativa Sugestiva: A demo planta perguntas e estimula a curiosidade, sem entregar todas as respostas de bandeja. É ideal para jogadores que curtem desvendar mistérios e reconstruir a história através de fragmentos e simbolismos.
- Estilo Autoral Marcante: A personalidade do jogo é palpável em cada detalhe, desde a construção do ambiente até a corajosa escolha de remover HUDs e tutoriais, oferecendo uma experiência mais visceral e imersiva.
- Visual Detalhado e Realista: Mesmo com as demandas de hardware, o jogo impressiona pela riqueza visual, com construções, lama, água e vegetação incrivelmente realistas, contribuindo diretamente para a imersão na ambientação devastada.
Pontos negativos (ou que ainda podem evoluir):
- Curva de Aprendizado Abrupta: A ausência de tutoriais e a jogabilidade que não “segura a mão” do jogador podem ser um obstáculo inicial para jogadores mais casuais, exigindo uma adaptação maior.
- Ritmo Lento no Começo: Embora aprecie a construção gradual dos eventos iniciais, o pacing pode parecer um pouco lento para jogadores mais ansiosos, que talvez esperem uma ação mais imediata.
- Exigência de Hardware Considerável: Apesar de rodar de forma estável em configurações padrão, o jogo demonstra ser bastante pesado. Ao ativar recursos como DLSS ou Frame Generation e aumentar as configurações gráficas, a demanda por hardware se eleva significativamente, indicando que pode ser um desafio para PCs menos robustos.
Conclusão
Depois de mergulhar intensamente na demo de Hell is Us, a impressão inicial de impacto e surpresa não apenas se manteve, mas se aprofundou. O que começou como um teste sem grandes expectativas, revelou-se a descoberta de um título com imenso potencial e uma identidade verdadeiramente marcante no cenário dos RPGs sombrios.
Sua atmosfera opressora, o combate visceral que recompensa a precisão e a narrativa enigmática que convida à interpretação são a prova de que a Rogue Factor está pavimentando um caminho autoral e desafiador. Apesar da curva de aprendizado abrupta e da notável exigência de hardware, os pontos fortes – como a imersão profunda e o visual detalhado que constrói um pesadelo lúcido – brilham intensamente e superam qualquer obstáculo inicial.
Para quem busca um desafio autêntico, adora desvendar mistérios e não se importa em ser jogado em um mundo sem guias claros, Hell is Us é uma aposta certíssima. Esta demo deixou uma inegável vontade de continuar jogando, me deixando realmente curioso sobre o desfecho do game, o que aumentou imensamente minhas expectativas para o lançamento completo em setembro de 2025. Sem dúvida, será uma jornada que valerá a pena acompanhar.
Gostei tanto do jogo que o recomendo fortemente! Se você se interessou, teste a demo – o game já está em pré-venda na Steam e na Epic Games. E você, já jogou a demo de Hell is Us? Qual foi sua primeira impressão? Compartilhe nos comentários!